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segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

JOAQUIM COM O LÁPIS NA ORELHA

Na minha infância e juventude, conheci alguns Joaquins e Manoéis, geralmente portugueses, que vieram tentar a sorte na Santa Terrinha (Brasil), tornando-se donos de "lojas", "vendas", mercearias e/ou botequins.

Um deles foi meu pai, Manoel Lopes, que foi garçon de restaurantes renomados, para depois montar o seu botequim e restaurante.

Para os mais jovens, "lojas", mercearias, eram os supermercados de hoje, em dimensões infinitamente menores, sempre próximos as nossas casas, onde íamos comprar "fiado"pequenas quantidades de produtos.

Quando a minha mãe tinha necessidade de cebolas, batatas, tomates, me chamava ou ao meu irmão e dizia: "vá a mercearia do seu Joaquim e peça a ele para anotar na caderneta."

Os "Joaquins" e "Manoéis" andavam sempre com um lápis atrás da orelha para anotar as compras que eram feitas para serem pagas no final do mês. Ninguém os passavam para trás.

Eu fiz muitas anotações do que comprávamos e vendíamos nos botequins de meu pai.

Controle absoluto por parte de quem comprava, que também tinha a sua caderneta onde o seu Joaquim anotava o que havia fornecido, com seus respectivos valores, e de quem vendia.

Eis o mistério da origem do orçamento, integrado por receitas e despesas.

As famílias responsáveis tinham e tem a exata noção de que só podem gastar de acordo com o que recebem.

A esta saudável prática familiar, o novo ministro da Fazenda, "Joaquim" Levy, chamou em seu discurso de posse de "equilíbrio fiscal", principal bandeira de sua gestão, que esperamos que seja duradoura, para a felicidade geral da Nação.

Aliás, Tancredo, um nome também português, o nosso Neves, quando de sua vitória nas eleições para presidente da República, teria dito que para resolver a maioria dos problemas brasileiros, bastaria editar um decreto com apenas dois artigos: Art. 1o - É proibido gastar; Art. 2o - Revogam-se as disposições em contrário.

Infelizmente, Tancredo morreu, sem tomar posse, e muitos não entenderam a mensagem.

Gastar a que se referia Tancredo, caras pálidas, era desperdiçar, roubar o erário, esbanjar, orçar as despesas de custeio (pessoal, material e serviços),infinitamente maiores do que as de investimentos (as que atendem efetivamente as necessidades da população), como o fazemos modernamente,por exemplo,com a existência de 40 ministérios, sob a justificativa da governabilidade no Congresso Nacional.

O nosso Joaquim disse em seu discurso que pretende usar o lápis, tirando-o de trás da orelha, para, com o auxílio do Tribunal de Contas da União, Corregedoria Geral da União e outros órgãos de controle, usar em sua caderneta, para,efetivamente, poder atender as efetivas necessidades do povo brasileiro.

Infelizmente, para poder usar o lápis de forma eficaz, e alcançar o equilíbrio fiscal, mais uma vez, nós é que vamos pagar a conta com provável aumento de impostos.

É PRECISO IR PARA AS RUAS

Esse é o título da entrevista dada pelo senador da República, Pedro Simon, à Revista VEJA, edição de 14 de janeiro de 2015.

Na foto da entrevista, entre aspas, o senador diz: "Nunca vi um momento tão dramático. Estamos diante de um dos maiores escândalos de corrupção do mundo."

Confesso que eu também, ao longo de 48 anos de serviços prestados ao meu país, exercendo diversos cargos de relevância na República, nunca vi nada parecido.

O câncer da corrupção entrou num processo de metástase.
O corpo Brasil (Correios, Mensalão, Petrobras, BNDES, etc-mil) está quase todo tomado por essa doença que, diante da justificativa de que é preciso ter governabilidade, cada vez mais se espraia, parece-nos incurável (leiam o meu artigo "A corrupção é inextinguível" no meu blog: carlosalbertolopesrj.blogspot.com).

Às folhas 2 da entrevista, o senador Pedro Simon, diz: "O Congresso é um ajuntamento de corporações, sindicatos, empreiteiras, multinacionais. Ninguém ali fala pelo povo. Se deixar tudo calmo, não fazem nada, ou só fazem coisas de interesses de grupos".

Como testemunha ocular da história, infelizmente, tenho que concordar com a frase do senador, acrescendo: "... para engordar o caixa dois dos parlamentares que gastam milhões de reais para se (re)elegerem às custas do nosso dinheiro, ficando com o 'troco'".

Nosso dinheiro sim, porque quando os governos gastam mais do que recebem tem que aumentar os tributos (impostos, taxas e contribuições de melhorias) que pagamos, como estamos prestes a sofrer, conforme ilações do novo ministro da Fazenda.

Que não se diga que o senador está girando a metralhadora porque está se aposentando, decrépito, com 85 anos.

Em seu discurso de despedida, durante 4 horas, ao final, o senador chorou e foi aplaudido de pé por seus pares; certamente chorando de vergonha; chorando porque sabe que a história registra que em casos muito menos graves como os que estamos vivendo de forma inédita, por sua dimensão; como as "diretas já"; o impeachment" de um presidente da República, o povo teve que ir para as ruas.

Pena que a entrevista tenha sido publicada às vésperas do Carnaval, onde tudo pode acabar em samba; embora tenhamos alguma esperança, já que o senador diz que vai procurar a Ordem dos Advogados do Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, fazer palestras, participar de debates, para oferecer soluções ao nosso país.