Na minha infância e juventude, conheci alguns Joaquins e Manoéis, geralmente portugueses, que vieram tentar a sorte na Santa Terrinha (Brasil), tornando-se donos de "lojas", "vendas", mercearias e/ou botequins.
Um deles foi meu pai, Manoel Lopes, que foi garçon de restaurantes renomados, para depois montar o seu botequim e restaurante.
Para os mais jovens, "lojas", mercearias, eram os supermercados de hoje, em dimensões infinitamente menores, sempre próximos as nossas casas, onde íamos comprar "fiado"pequenas quantidades de produtos.
Quando a minha mãe tinha necessidade de cebolas, batatas, tomates, me chamava ou ao meu irmão e dizia: "vá a mercearia do seu Joaquim e peça a ele para anotar na caderneta."
Os "Joaquins" e "Manoéis" andavam sempre com um lápis atrás da orelha para anotar as compras que eram feitas para serem pagas no final do mês. Ninguém os passavam para trás.
Eu fiz muitas anotações do que comprávamos e vendíamos nos botequins de meu pai.
Controle absoluto por parte de quem comprava, que também tinha a sua caderneta onde o seu Joaquim anotava o que havia fornecido, com seus respectivos valores, e de quem vendia.
Eis o mistério da origem do orçamento, integrado por receitas e despesas.
As famílias responsáveis tinham e tem a exata noção de que só podem gastar de acordo com o que recebem.
A esta saudável prática familiar, o novo ministro da Fazenda, "Joaquim" Levy, chamou em seu discurso de posse de "equilíbrio fiscal", principal bandeira de sua gestão, que esperamos que seja duradoura, para a felicidade geral da Nação.
Aliás, Tancredo, um nome também português, o nosso Neves, quando de sua vitória nas eleições para presidente da República, teria dito que para resolver a maioria dos problemas brasileiros, bastaria editar um decreto com apenas dois artigos: Art. 1o - É proibido gastar; Art. 2o - Revogam-se as disposições em contrário.
Infelizmente, Tancredo morreu, sem tomar posse, e muitos não entenderam a mensagem.
Gastar a que se referia Tancredo, caras pálidas, era desperdiçar, roubar o erário, esbanjar, orçar as despesas de custeio (pessoal, material e serviços),infinitamente maiores do que as de investimentos (as que atendem efetivamente as necessidades da população), como o fazemos modernamente,por exemplo,com a existência de 40 ministérios, sob a justificativa da governabilidade no Congresso Nacional.
O nosso Joaquim disse em seu discurso que pretende usar o lápis, tirando-o de trás da orelha, para, com o auxílio do Tribunal de Contas da União, Corregedoria Geral da União e outros órgãos de controle, usar em sua caderneta, para,efetivamente, poder atender as efetivas necessidades do povo brasileiro.
Infelizmente, para poder usar o lápis de forma eficaz, e alcançar o equilíbrio fiscal, mais uma vez, nós é que vamos pagar a conta com provável aumento de impostos.