NIEMEYER PENSAVA QUE
ERA ATEU E COMUNISTA
Por Carlos Alberto
Lopes
Com todo o respeito àqueles que
não crêem em Deus e os que ainda defendem o Sistema Social, Político e
Econômico desenvolvido teoricamente por Karl Marx e proposto pelos partidos
comunistas como etapa posterior ao socialismo, rótulos à parte, Oscar Niemeyer
que, por divergências, deixou de sê-lo, na minha visão, não era nem uma coisa,
nem outra.
A genialidade de suas obras
arquitetônicas brasileiras e internacionais, por nós conhecidas, preteria a
razão em favor da imaginação, da inspiração, para colocar a leveza das mesmas
soltas “no ar”, como se estivessem flutuando; inspiração que vem dos deuses e
que só é dada aos gênios, tornando-os imortais.
Assim foi o côncavo e o convexo
do Congresso Nacional, representando a Câmara dos Deputados e o Senado Federal;
a Catedral de Brasília, concebida em forma de uma coroa de espinhos com
dezesseis pilares, com os apóstolos João, Lucas, Marcos e Mateus, em sua
entrada e a cruz encimando-as; as colunas suspensas do Palácio da Alvorada, que
eram o elemento arquitetônico mais importante desde as colunas gregas; o
memorial à JK (Juscelino Kubitschek), colocando-o o ex-presidente nas nuvens, dentro
de uma foice e um martelo, em Brasília, para, ainda que decepcionado com os
caminhos do comunismo, prestar a sua homenagem; a mão aberta gigantesca de
concreto sobre a qual escorre sangue no Memorial da América Latina, em São Paulo , que remete ao
sofrimento dos povos da região; a Pampulha, onde funciona a Igreja São
Francisco de Assis, em formato de montanhas, em Minas Gerais , dentre
as mais de 500 obras e projetos pelo mundo afora.
Aqueles que o criticavam
denominando-o de “arquiteto de palácios”, dos ricos, esqueceram-se que o “iluminado”
Oscar, na impossibilidade de mudar os sistemas sociais, políticos e econômicos
a sua feição, os concebia com funções sociais de serem museus, igrejas, escolas,
passarelas (como a da Rocinha, na favela do mesmo nome), como o Sambódromo, os
CIEPES, para que todos, de todas as classes sociais e credos, pudessem
acessá-los ao mesmo tempo.
“Partir do princípio de que a
arquitetura dos pobres tem que ser necessariamente pobre num ambiente de
contrastes é uma forma de discriminá-los, de não sinalizar para a mudança”,
disse ele sobre o projeto que fez para o seu próprio motorista, morador da
Rocinha.
As obras públicas de Niemeyer, permitem a democratização dos espaços palacianos, episcopais, educacionais, econômicos, políticos e sociais, que jamais poderiam ser acessados se não fossem concebidos pelas mãos abençoadas e flutuantes do gênio sobre as pranchetas, que os riscava com a leveza das curvas da sua mente, alma e coração, da vida, que lhe foi dada por Deus.
Oscar Niemeyer não foi ateu e nem comunista. Foi um humanista que ficará para sempre em nossos corações. Descanse em paz.
Carlos Alberto Lopes é deputado federal pelo PMN/RJ