Infelizmente, estamos vivendo dias de guerra, com policiais militares, civis, bombeiros nas ruas, para debelar incêndios de queimas de pneus para parar o trânsito; para combater as depredações; saques a lojas comerciais; queimas de ônibus; vandalismos de forma geral, que levam os governadores e prefeitos a pedirem a presença das forças armadas, com tanques militares, numa reedição de junho de 2013, cujo mote naquela oportunidade foi o aumento das passagens, e agora o de que não queremos a Copa do Mundo.
A motivação para as ações das pessoas que gritam contra a Copa do Mundo é outra. Eles não podem conceber que gastemos em torno de 30 bilhões em obras para sediar a Copa, sob a alegação que a mesma deixará um legado para a população, e termos a nossa gente ainda pegando comida no lixo nas grandes cidades na hora do almoço ou na hora do jantar; não podem admitir que as pessoas morram nas filas dos hospitais; não aceitam que as pessoas morem embaixo de viadutos ou em barracos de papelão, como tive a oportunidade de ver recentemente no Parque Tiradentes, uma das 16 comunidades do Chapadão, em Anchieta e adjacências, no Rio de Janeiro; e não admitem que não existam serviços públicos compatíveis com uma das mais altas taxas de impostos do mundo.
Que legado, se os valores contratados para, por exemplo, mobilidade urbana, até aqui tiveram menos de 50% executados? Em telecomunicações: 1/3 executados; aeroportos por terminar, como o de Brasília, capital federal; desenvolvimento turístico:1/6 executados; estádios, muitos com improvisações de última hora, com estruturas provisórias, apelidados de arenas, que ficarão para todo o sempre como elefantes brancos.
Com justificar essa montanha de dinheiro, bancado por nós contribuintes, se, quando do anúncio de que seríamos a sede da Copa, o discurso oficial era de que a mesma seria custeada pela iniciativa privada?
Eu trabalhei com um ministro de Estado - em um Governo muito diferente do que se vê hoje em dia - que, quando propuseram a ele a realização da Copa do Mundo em nosso país, corajosamente, deu uma pancada em sua mesa e disse: o Brasil tem outras prioridades e, dependendo de mim, não vai ter Copa.
Será que os estados da federação que estão em “guerra”, em chamas, como Pernambuco, Alagoas, Maranhão, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, entre outros, combinaram um levante conjunto contra a atual situação porque passamos?
Não. A revolta que está em nossos corações deve-se aos mensalões da vida, com o desvio de 150 milhões de reais; às gestões temerárias da Petrobras (com a aquisição da Refinaria de Pasadena, que gerou um prejuízo da ordem de 1 bilhão e 200 milhões de dólares, com o superfaturamento da obra da Refinaria Abreu Lima, em Pernambuco, cujo orçamento inicial era de 2 bilhões e meio de reais e hoje está estimado em 20 bilhões, com a construção do COMPERJ – Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, em Itaboraí, cujo preço inicial era de 15 bilhões e hoje está em 25 bilhões, com a entrega inicial prevista em 2013 e postergada para 2016, com a locação de oleodutos do Equador por 270 milhões, desde 2002 e que até agora não o utilizou com uma só gota de óleo); aos “empréstimos secretos” do BNDES à Cuba, a países africanos, sem a autorização constitucional do Congresso Nacional, bem como a perdão de dívidas de outros países, sem conhecimento da população brasileira; a aplicação indevida do Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviços, de 400 milhões de reais, dinheiro do trabalhador brasileiro, em empresas privadas num estaleiro falido há 9 anos; ao superfaturamento de obras públicas, através do Regime Diferenciado de Contratações, que não exige projetos prévios e executivos, sem planejamentos, que oneram essas mesmas obras; entre outras mazelas, que caracterizam uma corrupção endêmica. A revolta está no fato dos dilapidadores do patrimônio público, seus asseclas e correligionários, que integram o aparelhamento governamental, ainda terem a coragem de querer defender o indefensável, criticando os ministros da mais alta Corte do País, inclusive ameaçando de morte o presidente do Supremo Tribunal Federal.
Não. Os motins que vem se sucedendo em nosso país devem-se também ao aumento da inflação e dos juros; a diminuição da produtividade, da competitividade, do saldo da balança comercial, do PIB, dos investimentos, da credibilidade no concerto das nações; a gastança nacional, com 40 ministérios, com as despesas de custeio (pessoal, materiais e serviços) superando 7 vezes as despesas de investimentos (que atendem efetivamente as necessidades da população); uma segurança pública com recursos humanos, materiais e financeiros não compatíveis com as suas reais necessidades; uma educação sofrível à espera dos recursos dos royalties do petróleo que advirão do pré-sal; uma saúde à espera também desses mesmos royalties e a vontade do governo em aportar-lhe 10% de sua receita bruta.
Dizem que a voz do povo é a voz de Deus. E o povo está dizendo: “queremos saúde; queremos educação, queremos segurança; queremos serviços públicos padrão FIFA.”
Os governantes é que continuam se fazendo de cegos e surdos.